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OS IMPACTOS, RISCOS NO DESENVOLVIMENTO DA ADOLESCÊNCIA NAS REDES SOCIAIS E COM APLICATIVOS DE IA

Não estamos lidando com as redes sociais e Ias como apenas um “lobo mau” assediando a “chapeuzinho vermelho” para devorá-la, mas com uma alcateia multifacetada, muitas vezes aparentemente invisíveis, sorrateiras, sedutoras e isso faz toda diferença no contexto contemporâneo onde todos estamos imersos!

Portanto, uma perspectiva nem pessimista nem otimista, mas ponderação. Na psicanálise, a ideia de ser “nem pessimista, nem otimista” pode ser entendida como uma postura mais realista e esperançosa, que se distancia da visão ingênua do otimismo e da amargura do pessimismo. Essa postura busca uma avaliação mais precisa da realidade, reconhecendo tanto os aspectos negativos quanto os positivos, e a possibilidade de mudança e crescimento, sem cair em um otimismo irreal ou um pessimismo que bloqueia a ação.

Há muitas perguntas, estaríamos num momento de novas subjetivações narcísicas, estabelecemos novas formas vinculares, aprisionamentos alienantes, polarizações para controle? A condição da ambivalência das pulsões humanas é um desafio.

O caso do jovem americano de 14 anos, Sewell Setzer ficou emocionalmente dependente de “Daenerys”, personagem criado pela empresa Character.AI, que oferecia “experiências antropomórficas, hipersexualizadas e assustadoramente realistas”. Sua mãe americana abriu uma ação judicial nos EUA contra a startup de inteligência artificial Character.AI e o Google, alegando que a interação do filho com um chatbot teria contribuído para sua morte.

O mercado de “acompanhantes de IA” tem crescido rapidamente, permitindo que usuários customizem parceiros virtuais a partir de um simples cadastro com idade mínima de 13 anos e se comuniquem simulando um relacionamento próximo com um avatar criado pelo usuário ou oferecido pela plataforma.

Não temos que demonizar os avanços da tecnologia, redes sociais, IAs, mas seus impactos nos vínculos humanos, a ética das relações subjetivas e intersubjetivas, continência e diálogo com os pais, são algumas questões.

Com os chatbots de inteligência artificial, que ganham popularidade entre quem busca companhia na vida online, grupos de defesa de jovens estão intensificando os esforços jurídicos para proteger as crianças de relacionamentos nocivos e perigosos com criações semelhantes a seres humanos.

Os apps de chatbots como Replika e Character.AI pertencem ao mercado de acompanhantes de IA, que tem crescido rapidamente. Com os apps, usuários podem customizar seus parceiros virtuais com nuances de personalidade e se comunicar com eles, simulando um relacionamento próximo. Não há regulamentação ética ou previsão de efeitos deletérios nos usuários nestes app.

A teoria do apego, que é sobre os laços que criamos em relacionamentos, pode oferecer alguns insights. De acordo com essa teoria, vemos que a amizade preenche as necessidades das crianças de sentirem que são queridas, valorizadas e pertencem a algum lugar. Às vezes, os jovens até fazem escolhas conscientes para manter amizades ao custo do desconforto pessoal, em vez de ficarem sozinhos.

Sob a ótica psicanalítica, esse fenômeno levanta preocupações quanto ao impacto do consumo midiático desregulado no desenvolvimento psíquico, sobretudo no que se refere ao surgimento de distúrbios psicológicos como ansiedade, depressão e transtornos alimentares. Teorias clássicas e contemporâneas da psicanálise, como as noções de narcisismo e idealização do ego, oferecem uma base conceitual importante para entender as influências inconscientes que permeiam o contato dos jovens com a mídia. Nesse sentido, o uso intensivo de redes sociais e outras plataformas digitais possibilita a projeção de ideais inatingíveis, gerando um ambiente de competição e comparação contínuas, que afetam a autoestima e a construção da autoimagem.

A adolescência é uma fase de busca por identidade e pertencimento, sendo marcada por um intenso processo de construção do “eu”. Neste contexto, o consumo midiático pode influenciar diretamente a forma como os jovens percebem a si mesmos e ao mundo, contribuindo para a formação de identidades fragmentadas e para o surgimento de conflitos internos.

Essa exposição a ideais inalcançáveis desencadeia sentimentos de inadequação e inferioridade, especialmente entre os jovens que estão em fase de autodescoberta e ainda lidam com inseguranças típicas da adolescência. A idealização de influenciadores digitais, figuras públicas e até mesmo dos próprios amigos nas redes sociais leva o adolescente a questionar sua própria identidade e a adotar comportamentos e atitudes que podem não refletir sua essência, mas sim um desejo de ser aceito pelo grupo. Este fenômeno, conhecido como “identificação”, é um processo inconsciente onde o sujeito incorpora características e valores de outro indivíduo que ele admira ou que parece socialmente valorizado. Contudo, essa identificação, quando impulsionada pela mídia digital, pode intensificar a fragmentação do eu, dificultando o desenvolvimento de uma identidade autêntica.

Além disso, a psicanálise entende que a busca por aprovação nas redes sociais não se limita à obtenção de “curtidas” ou seguidores, mas envolve um desejo inconsciente de reconhecimento e afeto. Esse desejo pode ser interpretado como uma manifestação do narcisismo, onde o adolescente busca incessantemente ser admirado e valorizado. Freud, ao introduzir o conceito de narcisismo, destacou que uma dose saudável desse traço é fundamental para o desenvolvimento do ego. Entretanto, no ambiente digital, esse narcisismo pode se exacerbar, levando o jovem a uma relação dependente com as redes sociais para validar sua autoestima.

Essa dependência pode contribuir para o surgimento de comportamentos ansiosos e sintomas depressivos quando a resposta do público não é tão positiva quanto o esperado, ou quando o jovem se compara de forma constante com outras pessoas.

Portanto, a era digital não apenas transforma a maneira como os adolescentes se expressam e interagem, mas também modifica a relação que eles estabelecem com a própria identidade. A psicanálise, ao considerar os processos inconscientes e os mecanismos de defesa que operam no sujeito, permite uma compreensão mais profunda dos impactos psíquicos desse fenômeno.

O consumo midiático, quando desregulado, pode potencializar ansiedades e inseguranças, dificultando o desenvolvimento de um “eu” integrado e saudável. É fundamental, assim, que se reconheça a influência que a mídia exerce na construção da identidade dos jovens e que se incentive uma abordagem mais crítica e consciente do uso dessas plataformas, bem como saídas mais saudáveis dialógicas, compreensivas com os pais, na escola e demais instituições sociais.

Fontes:

https://www.migalhas.com.br/quentes/418449/opiniao-morte-de-jovem-que-se-apaixonou-por-ia-expoe-lacuna-legal

https://forbes.com.br/forbes-tech/2025/02/chatbots-sao-desafio-para-saude-mental-de-criancas

https://revistatopicos.com.br/artigos/a-influencia-do-consumo-midiatico-no-desenvolvimento-de-disturbios-psiquicos-em-jovens

Marina da Silveira Rodrigues Almeida – CRP 06/41029

Psicóloga Clínica, Escolar e Neuropsicóloga, Especialista em pessoas adultas Autistas (TEA), TDAH, Neurotípicos e Neurodiversos.

Psicanalista Psicodinâmica e Terapeuta Cognitiva Comportamental

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