“Imagino que uma das razões pelas quais as pessoas se apegam tão teimosamente ao seu ódio é porque sentem que, quando o ódio desaparecer, serão forçadas a lidar com a dor.” James Baldwin
A Psicanálise Contemporânea se esforça para atualizar uma compreensão respeitosa antirracista solidária com os negros, indígenas e todas as pessoas de estão em grupos minoritários e vulneráveis.
O racismo é um flagelo na história do nosso país e está profundamente enraizado na vida psíquica de todos os brasileiros. A evidência da onipresença do racismo consciente e inconsciente é incontestável.
Como Psicóloga e Psicanalista, estou empenhada em testemunhar, explorar, compreender e escavar os aspectos internalizados do racismo e da dinâmica do privilégio.
Reafirmo o compromisso de fazer uso dos conhecimentos e habilidades únicas oferecidas pelo método Psicanalítico Contemporâneo para a melhoria da vida humana. Cabe a nós continuarmos a revisar e revisar nosso currículo para incluir uma representação precisa de diversas vidas e experiências diversas.
Continuamos a trabalhar em direção ao objetivo há muito esperado de aumentar o acesso à formação psicanalítica e ao tratamento para pessoas de negras.
A Psicologia Negra é considerada uma disciplina acadêmica distinta. Embora existam várias maneiras de definir o campo, os pontos em comum entre elas enfatizam o estudo do pensamento e dos comportamentos negros usando experiências negras para gerar teorias, conceitos e métodos culturalmente adaptados.
A necessidade de psicologia negra foi catalisada por um evento ocorrido em 1968, onde um grupo de mais de duzentos psicólogos negros se reuniu na convenção da American Psychological Association (APA) realizada em São Francisco, CA, para discutir várias preocupações que tinham.
Em primeiro lugar, o seu objetivo era discutir o quão problemático era utilizar perspectivas eurocêntricas e currículos racialmente preconceituosos para compreender as experiências negras que abordavam a compreensão dos afro-americanos através de uma perspectiva de déficit, apresentando os negros como inferiores. Por outras palavras, muitas das conclusões alcançadas na investigação psicológica basearam-se nas perspectivas dos brancos nos EUA, muitas vezes estudantes de licenciatura. As pessoas que então divergiam desta “norma” eram vistas como deficientes.
Em segundo lugar, o grupo também discutiu a falta de negros (estudantes e profissionais) na psicologia e na APA. Para fazer melhorias, os psicólogos negros expressaram a necessidade de a APA incorporar mais profissionais negros no setor da APA e da Psicologia, bem como formar adequadamente psicólogos para trabalhar com grupos minoritários.
Em 1970, Joseph White escreveu o primeiro artigo intitulado “Rumo a uma psicologia negra”, que enfatizava a necessidade de ter uma psicologia que estudasse a vida dos negros de uma maneira “não deficiente” e imparcial.
Em seu artigo, ele se referiu a esse tipo de psicologia como “Psicologia Negra”, sendo assim quem cunhou o termo. White, juntamente com muitos outros psicólogos, como Wade Nobles (que introduziu a filosofia africana na psicologia negra), ajudaram a impulsionar o campo da psicologia negra.
A Psicologia Negra foi formada de forma sistemática para estudar e compreender adequadamente as experiências negras. Dentro do campo encontram-se três escolas de pensamento: tradicional, reformista e radical.
Resumidamente, a escola tradicional desafia a psicologia eurocêntrica, mas utiliza a metodologia com pequenas alterações, a escola reformista reconhece essencialmente componentes da psicologia eurocêntrica que são úteis e podem ser incorporadas na psicologia negra e a escola radical constrói novas teorias para capturar a experiência negra usando a cultura africana baseadas em teorias culturalmente adaptadas.
Dada a diferença com cada escola, são utilizadas diferentes abordagens metodológicas.
Deve-se notar que, embora cada escola seja distinta uma da outra, normalmente há sobreposição. Independentemente disso, cada escola contribui de forma importante para o campo da Psicologia Negra.
A psicanálise passa a ser uma ferramenta importante no pensamento sobre o lugar do negro do Brasil justamente porque é uma teoria que pensa a verdade ocultada nas exclusões, apagamentos e dominação por intermédio da valorização dos lugares das descontinuidades da fala em sua concretude e ato.
Neste caso, assumir a fala não é sinônimo apenas de tomar a voz ou ocupar lugares de poder que historicamente são ocupados por brancos. Trata-se de uma proposta ainda mais radical: assumir a fala é assumir o modo de falar, assumir o “pretuguês”, assumir que aquilo que se mostra como mais estrangeiro às instâncias (psíquicas e sociais) dominantes, na verdade, as constitui inexoravelmente. Isso implica não em equilibrar a balança, mas em questionar a própria raiz de seu sistema de medida.
Numa sociedade como a brasileira, de herança escravocrata, pessoas negras vão experienciar racismo do lugar de quem é objeto dessa opressão, do lugar de quem restringe oportunidades desse sistema de opressão. Pessoas brancas vão experienciar do lugar de quem se beneficia dessa mesma opressão. Logo, ambos os grupos podem e devem discutir essas questões, mas falarão de lugares distintos.
Fontes:
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Marina da Silveira Rodrigues Almeida – CRP 06/41029
Psicóloga Clínica, Escolar e Neuropsicóloga, Especialista em pessoas adultas Autistas (TEA), TDAH, Neurotípicos e Neurodiversos.
Licenciada pelo E-psi do Conselho Federal de Psicologia para atendimentos on-line.
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