VIOLÊNCIA DIGITAL E OS IMPACTOS PSÍQUICOS NA SUBJETIVIDADE CONTEMPORÂNEA

Este artigo analisa os múltiplos aspectos da violência digital, incluindo divulgação não consensual de imagens íntimas, cyberbullying, assédio sexual, deepfakes, discurso de ódio, exposição de dados privados (doxxing), stalking, exploração sexual online e perfis falsos.

A partir da psicanálise contemporânea, são discutidos os impactos psíquicos desses fenômenos, os perfis psicológicos envolvidos, os riscos à saúde mental e as intervenções terapêuticas necessárias.

O texto apresenta estatísticas recentes, exemplos reais, alertas clínicos e recomendações para enfrentamento e prevenção.

Introdução

A violência digital é uma forma de agressão que ocorre em ambientes virtuais e afeta profundamente a subjetividade dos indivíduos.

Com a expansão das redes sociais e o uso massivo de tecnologias, surgem novas modalidades de violência que ultrapassam os limites físicos e invadem a intimidade, a identidade e a segurança emocional dos sujeitos.

A psicanálise contemporânea compreende essas manifestações como sintomas de uma sociedade marcada pela fragmentação dos vínculos, pela exposição compulsiva e pela dificuldade de elaboração simbólica do sofrimento.

Tipos de Violência Digital e Exemplos

Divulgação não consensual de imagens íntimas

  • Exemplo: Uma adolescente de 16 anos teve fotos íntimas vazadas por um ex-namorado em grupos de WhatsApp. Sofreu bullying escolar, depressão e tentativa de suicídio.
  • Impacto: Humilhação pública, retração social, trauma sexual.

Cyberbullying e trollagem

  • Exemplo: Influenciadores são alvos de ataques coordenados com memes ofensivos, montagens e comentários cruéis.
  • Impacto: Ansiedade, pânico, abandono da carreira ou redes sociais.

Assédio sexual e chantagens

  • Exemplo: Mulheres recebem mensagens invasivas com pedidos de nudes e ameaças de exposição caso não respondam.
  • Impacto: Medo constante, sensação de invasão, trauma relacional.

Deepfakes gerados por IA

  • Exemplo: Vídeos falsos de figuras públicas em situações íntimas ou criminosas são compartilhados como verdade.
  • Impacto: Difamação, perda de reputação, despersonalização.

Discurso de ódio e desinformação

Exemplo: Dados pessoais de ativistas são expostos, incluindo endereço, CPF e fotos de familiares.

  • Impacto: Risco físico, paranoia, mudança de rotina e cidade.

Aliciamento e exploração sexual online

  • Exemplo: Adultos se passam por adolescentes em jogos online para seduzir e abusar de crianças.
  • Impacto: Trauma infantil, dissociação, risco de tráfico sexual.

Doxxing e stalking digital

  • Exemplo: Dados pessoais de ativistas são expostos, incluindo endereço, CPF e fotos de familiares.
  • Impacto: Risco físico, paranoia, mudança de rotina e cidade.

Catfishing e perfis falsos

  • Exemplo: Golpistas criam perfis falsos para enganar emocionalmente e aplicar fraudes financeiras.
  • Impacto: Perda de dinheiro, vergonha, desconfiança afetiva.

Cancelamentos on-line

O “cancelamento” é um fenômeno que pode ser interpretado como a atualização do supereu freudiano: uma instância punitiva, implacável e inconsciente.

  • Ele age com violência, exigindo moralidade absoluta.
  • Gera culpa e medo de errar.
  • Pode provocar retraimento social, silenciamento, ou comportamentos defensivos (negação, projeção).

Estatísticas Recentes no Brasil (2025)

Tipo de Violência DigitalCasos Registrados
Divulgação de imagens íntimas5.312
Cyberbullying e trollagem18.740
Assédio sexual online12.981
Deepfakes e manipulações digitais1.204
Doxxing e exposição de dados3.890
Stalking e perseguição virtual7.112
Exploração sexual infantil e juvenil2.487
Catfishing e golpes afetivos4.338

Fontes: Atlas da Violência 2025 – IPEA, 19º Anuário Brasileiro de Segurança Pública (2025)

Impactos Psíquicos e Perfil das Vítimas

Impactos emocionais:

  • Ansiedade, pânico, insônia
  • Depressão, retração social
  • Transtorno de estresse pós-traumático (TEPT)
  • Ideação suicida
  • Dissociação e despersonalização

Perfil das vítimas:

  • Maioria mulheres, adolescentes e pessoas LGBTQI+
  • Alta incidência entre jovens negros e periféricos
  • Vulnerabilidade emocional e afetiva
  • Histórico de violência doméstica ou abuso

Perfil Psicológico dos Agressores

  • Comportamento narcisista e manipulador
  • Falta de empatia e prazer na humilhação
  • Sentimento de vingança ou controle
  • Participação em fóruns misóginos e extremistas
  • Distorção da realidade e despersonalização da vítima

Fundamentos Psicanalíticos

A violência digital revela a falência dos limites simbólicos e a atuação do superego cruel.

O sujeito agressor projeta sua angústia e ódio no outro, enquanto a vítima é capturada em uma posição de objeto, exposta ao olhar público e ao julgamento coletivo.

A ausência de elaboração simbólica e a compulsão à repetição são marcas da subjetividade digital, onde o desejo é substituído pela pulsão de destruição.

A subjetividade na contemporaneidade

Segundo a psicanálise, o sujeito não é um ser plenamente consciente e coeso, mas é dividido, marcado pelo inconsciente, pelo desejo, pela falta.

Na contemporaneidade:

  • A tecnologia modifica os modos de laço social.
  • Há uma valorização do narcisismo, da imagem, do reconhecimento instantâneo.
  • A subjetividade é constantemente interpelada por exigências de exposição, sucesso, perfeição.

As redes sociais atuam como um espelho narcísico, onde o sujeito busca ser visto, curtido, validado — mas também se torna vulnerável à crítica e à agressão.

A violência digital como ataque narcísico

Sob a ótica psicanalítica (particularmente freudiana e lacaniana), a violência digital pode ser compreendida como:

  • Ferida narcísica: Quando alguém é atacado online, sua imagem (o “eu ideal”) é ferida. Isso gera angústia, vergonha, sentimento de humilhação.
  • Supereu social: A moral coletiva, expressa nas redes como tribunal público, age como um “supereu cruel”, que julga, pune e exige perfeição.
  • Angústia e recalque: A exposição forçada ou o linchamento digital pode levar à intensificação de defesas psíquicas, recalque de conteúdos dolorosos e adoecimentos como depressão, ansiedade e sintomas somáticos.

Clivagem e dissociação

Para lidar com a dor causada pela violência digital, muitos sujeitos recorrem a mecanismos como:

  • Clivagem do eu: separando sua “vida online” da “vida real”.
  • Dissociação psíquica: afastando afetos dolorosos, o que pode levar à dificuldade de simbolização e elaboração psíquica.

A psicanálise diante do digital

A psicanálise não busca “condenar” a tecnologia, mas compreender seus efeitos sobre o sujeito.

  • Escuta clínica: O setting terapêutico é um espaço para dar lugar à palavra, ao sofrimento que não encontra espaço no meio virtual.
  • Restaurar a simbolização: A análise permite que o sujeito reconstrua sua narrativa, elabore suas feridas e reinscreva sua experiência no campo da linguagem.

Cuidados, Tratamentos e Recomendações

A violência digital atinge profundamente a subjetividade contemporânea. A psicanálise nos oferece ferramentas para compreender como o sujeito sofre e reage a essas agressões, revelando:

  • a fragilidade do narcisismo,
  • o peso do olhar do outro (real e imaginário),
  • a importância da escuta e da elaboração simbólica.

Num mundo cada vez mais atravessado por telas e aparências, escutar o sofrimento do sujeito torna-se um ato de resistência e de cuidado com a saúde mental.

O que fazer diante da violência digital:

  • Registrar boletim de ocorrência (inclusive online)
  • Salvar provas (prints, mensagens, links)
  • Bloquear e denunciar perfis ofensivos
  • Procurar apoio jurídico e psicológico
  • Evitar exposição pública da dor

Denuncie na SaferNet Brasil 

O sistema da SaferNet permite o anonimato do denunciante que, ao acessar a plataforma www.denuncie.org.br , seleciona um dos nove tipos de violação de direitos humanos e maus tratos contra animais, cola o link da página com o conteúdo suspeito, escreve um comentário se achar pertinente e envia a denúncia. São apenas 3 cliques para completar uma denúncia. O processo é fácil, rápido e anônimo.

Além de conteúdos de abuso e exploração sexual infantil, o cidadão pode denunciar os crimes de racismo, apologia e incitação a crimes contra a vida, xenofobia, neonazismo, intolerância religiosa, lgbtfobia, tráfico de pessoas, violência ou discriminação contra mulheres e maus tratos contra animais. 

A SaferNet seguirá com a cooperação que já mantém com o Ministério Público Federal, iniciada há mais de 19 anos, e cuja versão atual data de 2017. Pelo acordo com o MPF, a ONG processa as cerca de 200 a 300 denúncias que recebe diariamente em colaboração com o Núcleo Técnico de Combate aos Crimes Cibernéticos do MPF em São Paulo. Nesse processamento são excluídas denúncias repetidas, por exemplo. Apenas em 2024, o MPF instaurou cerca de 1000 procedimentos de investigação a partir das denúncias que a SaferNet Brasil recebeu.

https://new.safernet.org.br

Tratamentos recomendados:

  • Psicoterapia psicodinâmica para elaboração do trauma
  • Terapia cognitivo-comportamental para reestruturação emocional
  • Grupos terapêuticos para fortalecimento coletivo
  • Acompanhamento psiquiátrico em casos graves

Indicação Profissional

Se você ou alguém próximo está enfrentando violência digital, assédio online, exposição íntima ou sofrimento emocional decorrente de ataques virtuais, a psicoterapia pode ser um espaço seguro de acolhimento, reconstrução e fortalecimento subjetivo.

Se você ou alguém que conhece precisa de suporte, a Psicóloga Marina da Silveira Rodrigues Almeida está disponível para atendimentos de psicoterapia online em plataforma de Telessaúde segura e criptografada. O primeiro passo para a recuperação é buscar ajuda especializada.

Entre em contato comigo por mensagem no WhatsApp (55) 13 991773793 e agende uma consulta online.

Referências

Araújo, G. S. et al. Violência digital: o impacto do cyberbullying nas redes sociais e suas consequências na saúde mental. Revista FT, v. 29, n. 140, nov. 2024. DOI: 10.69849/revistaft/cl10202411301207.
Palavras-chave: Cyberbullying, saúde mental, violência digital, prevenção.

Rivelli, F. A violência digital e seus efeitos nas vítimas: desafios contemporâneos e perspectiva do ser humano digital. Revista PróVítima, v. 1, n. 1, 2025. DOI: 10.58725/rivjr.v1i1.100.
Palavras-chave: Violência digital, direitos humanos, dignidade da pessoa humana.

Silva, A. C. et al. Cyberbullying: conceituações, dinâmicas, personagens e implicações à saúde. Ciência & Saúde Coletiva, v. 23, n. 10, 2018. DOI: 10.1590/1413-812320182310.13482018.
Palavras-chave: Cyberbullying, redes sociais, saúde mental, ciberespaço.

Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Atlas da Violência 2025. Brasília: IPEA, 2025. Disponível em: www.ipea.gov.br.

Fórum Brasileiro de Segurança Pública. 19º Anuário Brasileiro de Segurança Pública. São Paulo: FBSP, 2025. Disponível em: www.agendasparaobrasil.org.br.

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Marina da Silveira Rodrigues Almeida – CRP 06/41029

Psicóloga Clínica, Escolar e Neuropsicóloga, Especialista em pessoas adultas Autistas (TEA), TDAH, Neurotípicos e Neurodiversos.

Psicanalista Psicodinâmica e Terapeuta Cognitiva Comportamental

Entre em contato comigo somente por mensagem no WhatsApp (+55) 13 991773793 que minha secretária enviará as informações que precisar sobre Psicoterapia on-line, Mentoria, Palestras e Consultoria.

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