O AMIGO ARTIFICIAL E AS CONEXÕES HUMANAS: CAUSAS, DÉFICITS RELACIONAIS E INTERVENÇÕES CLÍNICAS

Este artigo analisa o fenômeno do “amigo artificial” — representado por inteligências artificiais generativas e assistentes virtuais — e seus impactos nas relações sociais e afetivas humanas.

A partir de uma abordagem psicodinâmica contemporânea, são discutidas as causas do afastamento interpessoal, os déficits emocionais decorrentes da substituição de vínculos humanos por vínculos tecnológicos, os efeitos psíquicos observados na clínica, a idealização do amigo digital, a dependência da internet, a negação da realidade e o atraso na busca por ajuda profissional.

São também apresentadas intervenções terapêuticas voltadas à reconexão e elaboração simbólica.

Introdução

A ascensão das inteligências artificiais generativas, como assistentes virtuais e chatbots, tem transformado profundamente a forma como os sujeitos se relacionam. Em um cenário marcado pela hiperconectividade, pela aceleração do tempo e pela fragilidade dos vínculos humanos, o “amigo artificial” surge como uma figura que oferece escuta, disponibilidade e ausência de julgamento.

Embora esses recursos possam representar suporte em momentos de solidão, seu uso indiscriminado pode comprometer o desenvolvimento emocional e afetivo, especialmente em populações vulneráveis.

Causas do Fenômeno: Por que o Amigo Artificial Ganha Espaço

  • Solidão contemporânea: O aumento da individualização e da vida digital tem gerado um vazio relacional, especialmente entre jovens e idosos.
  • Exigência de performance emocional: Relações humanas demandam escuta, reciprocidade e enfrentamento de conflitos, o que muitos evitam por medo da rejeição.
  • Disponibilidade incondicional da IA: Diferente dos vínculos humanos, os assistentes virtuais estão sempre disponíveis, não exigem esforço emocional e oferecem respostas imediatas.
  • Busca por controle: O sujeito pode moldar a interação com a IA conforme seus desejos, evitando a imprevisibilidade das relações reais.
  • Idealização do amigo digital: Muitos projetam na IA uma figura idealizada, que supre carências afetivas sem exigir reciprocidade ou enfrentamento de frustrações.

Déficits nas Relações Sociais e Afetivas

A substituição de vínculos humanos por vínculos artificiais pode gerar:

  • Empobrecimento da linguagem emocional: A comunicação com IA tende a ser funcional e direta, dificultando a elaboração simbólica de afetos complexos.
  • Rebaixamento da empatia: A ausência de alteridade nas interações artificiais compromete o desenvolvimento da empatia e da escuta ativa.
  • Isolamento relacional: O sujeito pode se afastar de vínculos reais por considerá-los mais exigentes ou frustrantes.
  • Negação da realidade: A relação com a IA pode funcionar como fuga da realidade, dificultando o enfrentamento de conflitos internos e externos.

Impactos nas Dificuldades Emocionais

Na clínica, observa-se:

  • Aumento de sintomas ansiosos e depressivos: A falta de vínculos afetivos reais intensifica sentimentos de vazio, desesperança e angústia.
  • Dificuldade de autorregulação emocional: A IA não oferece contenção emocional verdadeira, o que pode agravar crises e impulsos.
  • Atraso na busca por ajuda profissional: Muitos sujeitos recorrem à IA como substituto da escuta terapêutica, adiando o contato com profissionais da saúde mental.
  • Dependência da internet: O uso compulsivo de plataformas digitais para suprir necessidades afetivas pode configurar um quadro de dependência tecnológica.

Impactos Psíquicos e Subjetivos

Do ponto de vista psicodinâmico, o vínculo com o “amigo artificial” pode representar:

  • Defesa contra o desamparo: A IA funciona como um objeto transicional, que oferece segurança simbólica em momentos de fragilidade.
  • Fixação narcísica: A relação com a IA reforça a centralidade do eu, dificultando o reconhecimento do outro como sujeito.
  • Risco de regressão: Em casos extremos, o sujeito pode regredir a formas de vínculo infantil, buscando na IA uma figura materna idealizada.
  • Idealização do vínculo artificial: A ausência de frustração e conflito na relação com a IA pode gerar uma idealização que compromete a capacidade de lidar com a complexidade das relações humanas.

Cuidados Clínicos e Intervenções Terapêuticas

A atuação clínica deve considerar:

  • Escuta sem julgamento: Validar o uso da IA como recurso de enfrentamento, sem patologizar o sujeito.
  • Promoção de vínculos reais: Estimular a retomada de relações humanas, por meio de grupos terapêuticos, atividades sociais e reconexão familiar.
  • Psicoterapia psicodinâmica: Explorar os significados inconscientes atribuídos à IA e trabalhar a elaboração simbólica do desamparo.
  • Psicoeducação sobre tecnologia: Informar sobre os limites da IA como suporte emocional e os riscos da substituição relacional.
  • Encaminhamento clínico precoce: Identificar sinais de dependência digital e idealização excessiva da IA para promover intervenções antes do agravamento psíquico.

Considerações Finais

O “amigo artificial” é um fenômeno que reflete as fragilidades da subjetividade contemporânea. Embora possa oferecer suporte em momentos críticos, sua substituição aos vínculos humanos representa um risco à saúde mental.

A clínica deve ser um espaço de reconexão, onde o sujeito possa elaborar suas dores, reconhecer suas necessidades afetivas e construir relações reais, mesmo que imperfeitas.

O papel do profissional é acolher, orientar e intervir de forma ética e sensível, promovendo o retorno ao contato humano como fonte de elaboração e crescimento emocional.

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Referências

[1] LIPPI, F. L.; ABILIO, C. C. C.; LIPPI, J. R. S.; GATTI, D. C.; GRAGLIA, M. A. V. Impactos emocionais e afetivos do uso da inteligência artificial. Lumen et Virtus, v. 16, n. 44, p. 341–355, 2025. Disponível em: New Science. Acesso em: 11 out. 2025.

[2] ESCREVER ONLINE. Os impactos da inteligência artificial nas relações humanas. Escrever Online, 2025. Disponível em: Escrever Online. Acesso em: 11 out. 2025.

[3] POSTMAN, N. Tecnopólio: A rendição da cultura à tecnologia. São Paulo: Nova Alexandria, 1994.

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Marina da Silveira Rodrigues Almeida – CRP 06/41029

Psicóloga Clínica, Escolar e Neuropsicóloga, Especialista em pessoas adultas Autistas (TEA), TDAH, Neurotípicos e Neurodiversos.

Psicanalista Psicodinâmica e Terapeuta Cognitiva Comportamental

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