IMPASSES E DILEMAS DE SOFRIMENTO DO HOMEM NA CONTEMPORANEIDADE

Quem sou eu? Quais as minhas necessidades? Por que tenho conflitos? Para onde estou indo na minha vida? Qual o meu propósito de vida? Em que sou diferente dos outros animais e pessoas? Como aprendo? Por que tantas vezes me sinto inadequado em meu trabalho na sociedade? Em que me pareço com outras pessoas? O que posso fazer para ter um vida mais rica, feliz e produtiva? Como me relaciono socialmente? Por que me sinto tão ansioso ou deprimido? Estas são algumas das perguntas que todo ser humano se faz, desde que tenha consciência sobre si.

Segundo Jorge Forbes, foi Jacques Lacan quem deu o alerta da necessidade de uma psicanálise além do Édipo. Uma psicanálise capaz de acolher um homem cujo problema não está mais nas amarras de seu passado – que justificou a expressão “cura da memória” – mas uma psicanálise para o homem que não sabe o que fazer, nem escolher entre os vários futuros que lhe são possíveis hoje: sem pai, sem norte, sem bússola. A passagem do mundo industrial, ou modernidade, para a globalização, ou pós-modernidade, é a maior responsável por essa desorientação.

O homem ficou desbussolado, sem o norte da mão do pai que, por ter o saber, lhe assegurava o caminho a seguir.

Sobre isso, Jorge Forbes diz o seguinte: “As identidades eram organizadas verticalmente: a família, a empresa e a política eram pai-orientadas, ou seja, tendiam a um ponto superior ideal. Um dia ser como o pai, chegar a diretoria, representar o país. Na globalização, o laço social se horizontaliza, os ideais se pulverizam. Se antes o problema era: como vou chegar lá? Hoje passou a ser: aonde devo ir?”

Freud teve a genialidade de propor uma estrutura capaz de esquadrinhar a experiência humana nesse mundo pai-orientado: o complexo de Édipo. Um standard freudiano, não um princípio.

Anteriormente, as pessoas se queixavam por não conseguirem atingir os objetivos que perseguiam. Hoje, quase ao avesso, as pessoas se queixam pelas múltiplas possibilidades que se oferecem.

Antes se analisava para se compreender mais, para ir mais fundo, hoje se dirige o tratamento ao limite do saber: é a necessidade da aposta, na precipitação do tempo.  Ontem se fazia análise para obter uma ação garantida, livre de influências fantasiosas, hoje nenhuma ação é assegurada em um justo saber, toda ação é arriscada e inclui a responsabilidade do sujeito.

A psicanálise anteriormente se dirigia ao sofrimento psíquico, o que a levou a ser patrocinada por psicólogos que a reduziram a uma das disciplinas de seu currículo, hoje é necessário separá-la do campo da saúde mental. Se antes nos limitávamos em nossa práxis ao espaço do consultório, hoje haverá psicanálise onde houver um analista, e ele é necessário nos mais diversos locais da experiência humana, muito além das instituições de saúde.

Hoje estamos no momento do gozo ilógico, desregrado, dos excessos. Alguns exemplos dentre os mais notáveis são as toxicofilias, o fracasso escolar, a delinquência juvenil, as doenças psicossomáticas. Em cada um desses quadros podemos destacar a impotência da palavra dialogada para alterar o mau estado da pessoa. Quando não aparece a palavra, a narrativa, o discurso, aparece o ato.

Vejamos que os adolescentes são os que mais sofrem os curtos-circuitos do gozo dos excessos. As saídas são ordenar este gozo caótico em “esportes radicais”; no ar: paraglider; na terra: alpinismo; no mar: kitesurf.  Todos eles, no limite do dizível, tentativas de captura direta do gozo.

Forbes, relata que o fracasso escolar, a toxicomania, as bulimias, as anorexias, a violência despropositada têm em comum a impossibilidade de serem explicados. Suas causas não são decifráveis por via alguma: da medicina, da psicologia, da pedagogia. Não são explicáveis, isso não quer dizer que não sejam tratáveis.

Os novos sintomas, por surgirem do curto-circuito da palavra, são resistentes ao tratamento pela associação livre, porque não há simbolização, o pensamento é operatório e concreto.  De uma clínica do esclarecimento, vamos para a clínica da consequência.

Forbes, diz que a psicanálise no tempo de Freud visava descobrir os impasses, os traumas que impediam uma pessoa a alcançar o futuro que idealizava. O futuro era claro, difícil era seu acesso.

A psicanálise no século XXI não é um tratamento somente do passado, mas, ao contrário, é invenção do futuro.

Freud, para seus contemporâneos, escreveu três famosos textos sobre a organização social: “Totem e Tabu”, “Futuro de uma Ilusão” e “Mal-estar na Civilização”. É nossa tarefa, hoje, reinterpretar essa sociedade, não mais à luz do Complexo de Édipo, mas à luz do amor além do pai que exigirá falarmos da responsabilidade de cada um ante sua escolha e assumir suas consequências.

Fontes:

BAUMAN, Z. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2000.

BAUMAN, Z. O Mal–Estar da Pós-modernidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1997.

BRUN, G. Pais, filhos & cia. ilimitada. Rio de Janeiro: Editora Record, 1999.

CECCARELLI, P. R. Configurações Edípicas da Contemporaneidade: reflexões sobre as novas formas de filiação. Pulsional Revista de Psicanálise, São Paulo: ano XV, nº 161, p. 88- 98, set. 2002.

FORBES, J. A Psicanálise do Homem Desbussolado: as reações ao futuro e o seu tratamento. Projeto Análise por Jorge Forbes, São Paulo: 2004. Disponível em: <http://www.jorgeforbes.com.br/index.asp>. Acesso em: 18 jul. 2024

A Psicóloga e Neuropsicóloga Marina da Silveira Rodrigues Almeida é especialista em Transtorno do Espectro Autista em homens e mulheres.

Realizo psicoterapia online ou presencial para pessoas neurotípicas e neurodiversas.

Realizo avaliação neuropsicológica online para diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista em Adultos e TDAH.

Agende uma consulta no WhatsApp +55 (13) 991773793.

Marina da Silveira Rodrigues Almeida – CRP 06/41029

WhatsApp (13) 991773793

INSTITUTO INCLUSÃO BRASIL

Rua Jacob Emmerich, 365 – sala 13 – Centro – São Vicente-SP

CEP 11310-071

marinaalmeida@institutoinclusaobrasil.com.br

www.institutoinclusaobrasil.com.br

https://www.facebook.com/InstitutoInclusaoBrasil

https://www.facebook.com/marina.almeida.9250

https://www.facebook.com/groups/institutoinclusaobrasil

Instagram:

@institutoinclusaobrasil

@psicologamarinaalmeida

@autismoemadultos_br

Compartilhe o post!

WhatsApp
Twitter
LinkedIn

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

×
Pular para o conteúdo