DESEJO, CULPA E FRUSTRAÇÃO

Somos sujeitos desejantes e o desejo é movimento. A falta total de desejo nos estagna, paralisa-nos. Ele se apresenta em várias dimensões: desde bebês, os humanos desejam o alimento, o colo, o acolhimento.

Os primeiros contatos com esse OUTRO com função materna, independente de classificação de gênero, será determinante para toda a vida com relação às satisfações, frustrações e desejos.

As pulsões vitais estão intrinsecamente ligadas ao desejo. Este, que desde submetido à castração dos primeiros anos da existência, defrontar-se-á com impedimentos de fruição ao longo da existência, ou seja, não somos totalmente donos de nossos desejos. Ele está submetido sempre a ganhos e perdas em variados graus, dependendo das circunstâncias onde surge. Pergunta-se sobre o próprio desejo: Até onde o que eu desejo prejudica o outro? Então entram as questões étnico-culturais: O que é lícito em uma cultura, pode não ser em outra.

A frustração trata-se de um sentimento de que algum impedimento se antepôs ao desejo, ao planejado/almejado, permanecendo no nível mental sem experimentação na realidade. Assim, forças libidinais presentes no organismo buscam outros modos de satisfação. Dessa forma, inicia-se a sublimação, onde o sujeito efetua uma troca. Ao vazio provocado pela falta, o ideal é que se busquem alternativas possíveis na própria realidade. Uma variedade de motivos leva a esses deslocamentos: desde a insatisfação nas esferas da sexualidade, profissional, relação familiar, entre outras, que se tornam causas de adoecimento quando o EU (ego) – permanece estagnado em um embate com a realidade, gerando conflito.

A frustração é exatamente o contrário da satisfação, é uma constante em nossas vidas, mas também na vida dos animais.

Em seu texto “Os arruinados pelo êxito”, Freud (1856-1939) traz a questão da frustração que ocorre diante da realização de algo que foi fortemente almejado. Esse sentimento, em geral, surge em consequência da não realização de um desejo, de uma decepção ou de uma falha. Logo, frustrar-se é estar impedido de obter um “objeto de desejo”.

Toda vez que desejamos alcançar um objetivo e não conseguimos, sentimo-nos frustrados. Experimentamos a frustração quando contrariados dos nossos desejos. Como a frustração decorre de algum motivo e como os motivos humanos variam de indivíduo para indivíduo, não se pode especificar todas as situações que resultam em frustração. Contudo, de modo geral, esta pode ser classificada em frustração por demora, por contrariedade e por conflito.

  • A frustração por demora é talvez a mais comum e aquela a que as pessoas se adaptam com maior facilidade. O bebê faminto, que tem que esperar a mamãe preparar a mamadeira, já lida com este tipo de frustração. A criança é quem mais sofre com isso, pois não tem ideia real do tempo e desconhece que a satisfação poderá vir em seguida.
  • A frustração por contrariedade ocorre quando alguma interferência, alguma barreira nos separa de nosso objetivo. Por exemplo, a criança que deseja pegar um objeto e é impedido pela mãe, uma jovem que deseja ir a uma festa e os pais não autorizam, o adulto que espera por uma promoção no emprego e não acontece. Este tipo de frustração é bem mais doloroso.
  • A frustração por conflito acontece quando nos vemos diante de duas exigências e só podemos atender a uma.

As pessoas podem reagir à frustração de diversas maneiras, algumas positivas e outras negativas. Por exemplo, comportamentos de agressão, agressão deslocada, regressão, fantasia, fixação, apatia e outros mecanismos de defesa costumam ser consequências da frustração, assim como o esforço intensificado, a mudança dos meios, a substituição do objetivo, a adaptação a situação ou uso criativo.

Exemplos:

Agressão: o marido chega em casa com fome, não encontrando o jantar pronto, agride e ofende verbalmente a esposa.

Agressão deslocada: Um jovem é impedido pelos pais de jogar vídeo game, não podendo se voltar contra eles, desloca sua raiva e bate em seu irmão mais novo, depois chuta a porta.

Fantasia: Uma mulher que não conseguiu conquistar um determinado homem, passa, com frequência a imaginar casando-se com este homem, imagina que ele a ama em segredo, sonha em viajar com ele, e outras fantasias e situações amorosas, negando o ocorrido.

Regressão: Uma criança com 9 anos, tirou notas baixas em algumas disciplinas na escola, em virtude de seu fracasso escolar começa a urinar na cama e ter pesadelos.

Fixação: Uma criança ou jovem que consegue sempre as coisas no grito, para alcançar um desejo ou objetivo, repete sempre este comportamento toda vez que deseja obter algo, embora a estratégia possa as vezes não funcionar.

Apatia: Um garoto, depois de repetir o ano várias vezes na escola, não se esforça no estudo e não se importa com mais nada.

Esforço intensificado: Um adulto que perdeu um concurso ou vestibular, passa a estudar com mais afinco para a próxima oportunidade.

Mudança dos meios: Uma mulher vai para entrevista de emprego, e acaba indo mal por não lembrar as informações necessárias; na próxima entrevista ela então leva um portifólio com todas as informações necessárias.

Substituição de objetivos: Uma jovem que o namorado terminou com ela, resolve estudar e arruma outro namorado passado alguns meses.

Existem outros mecanismos de defesa, chamados por Freud de mecanismos de defesa do ego. Os mais comuns são:

Racionalização e Negação: maneira de justificar logicamente o que fazemos e aquilo em que acreditamos. Exemplo: Uma mulher afirma que tem lúpus, ela mesma fez seu diagnóstico pela internet, leu tudo sobre o assunto, mas não foi procurar nenhum médico porque acha desnecessário.

Compensação: uma pessoa disfarça as suas fraquezas mediante o realce de uma característica desejável ou encobre a frustração numa área pela excessiva gratificação. Exemplo, uma mulher que se sente frustrada e irrealizada sexualmente no casamente, começa a interessar-se por receitas de doces e comê-los exageradamente.

Projeção: significa culpar os outros pelas nossas dificuldades ou atribuir-lhes os próprios desejos não-éticos. É, portanto, uma forma de autoengano, pela qual atribuímos a alguém nossas limitações, insatisfações, preconceitos, erros e atitudes. Exemplo: Um homem vivia reclamando que não tinha ascensão profissional porque não tinha nível superior, sempre culpava sua esposa porque ela nunca o incentivava para fazer uma faculdade.

Identificação: é a assimilação das qualidades de uma personalidade qualquer que possui o desejado, aumentando com isso o sentimento de valia própria. Exemplo: Uma pessoa de origem humilde, começa a gastar todo seu dinheiro em roupas, acessórios, para postar fotos como se fosse uma pessoa rica e de classe social abastada, sentindo-se com isso superior.  

Fuga: mecanismo através do qual a pessoa evita a situação que pode provocar-lhe frustração. Exemplo: Um adolescente que precisa apresentar um trabalho para a classe, comunica aos pais e a escola que está com dor de cabeça e está muito indisposta o que impede de ir a aula.

Negação: a pessoa se nega, sistematicamente, a enxergar a realidade dolorosa. Exemplo: Os pais que que são avisados pela escola que seu filho está usando drogas, portanto será necessário buscar ajuda profissional para o filho. Os pais não investigam o que está acontecendo com o filho, não conversam com ele e tão pouco buscam ajuda profissional.

É impossível viver sem frustrações na vida. Entretanto, a frustração crônica pode ter efeitos deletérios na saúde emocional e física das pessoas. A frustração prolongada pode provocar problemas gastrointestinais, hipertensão, asma, dermatites, urticárias, ansiedade, alterações no sono, depressão, dentre outras.

Toda pessoa tem um determinado nível de tolerância a frustração, o que chamamos de capacidade de resiliência. Sempre que ela ultrapassa este nível, desorganiza-se o comportamento.

No entanto, algumas pessoas, mesmo diante de frustrações persistentes, continuam calmas e conseguem lidar com a situação, outras podem ficar muito agitadas, irritadas, instáveis emocionalmente sem condições de enfrentar os problemas.

Um afeto que vem carregado de sentido de que provocamos algo desagradável a alguém e passamos a nos ocupar do pensamento, de forma contínua, de arrependimento pelo ato. Tomando o conceito econômico, conforme apontado por Freud em vários textos, surge a possibilidade de pensar: em que grau, em que intensidade ocorre a culpa? Como sujeitos-agentes e sujeitados a determinadas culturas, a culpa pode conter fatores determinados pelo contexto, ainda que, também, estritamente individuais. Ou seja, ao lado dos fatores internos, tem-se a culpa gerada por dogmas, normas, religiosidade, entre outras fontes.

Nos neuróticos, a culpa pode ser alimentada, mantida sem que se efetue a ab-reação, isto é, a diluição desse afeto. As consequências da retenção desse estado culposo podem ser variadas, desde angústia, ansiedade, medo, ou outros sintomas que incomodam. Ou seja, diluir a questão tentando uma retratação com aquele que foi alvo do ato gerador desse sentimento seria ideal.

Na atualidade, é marcante a intolerância à frustração. O discurso dominante na cultura ocidental moderna e outras mais conservadoras, mas afetadas por ela, é de evitar a insatisfação, o princípio de realidade e manter-se no princípio do prazer.

Afinal, a oferta de mercadoria e corpos é marcante. Isso se dá tanto no âmbito de liberação sexual, quanto na submissão dos corpos ao Estado, pela via do trabalho, promovendo um discurso hipnótico, dominador e que é fonte constante de frustração, onde a economia determina e controla o desejo dos sujeitos modernos e pós-modernos do século XX e XXI.

A produção em alta escala e as invenções rápidas e descartáveis convidam à troca constante de objetos. A fugacidade predomina, atribuindo-se pouco valor às relações mais longas, à contemplação calma, tanto de pessoas, quanto de coisas (objeto – REAL).

Os avanços tecnológicos e a velocidade das comunicações facilitam a vida moderna, mas também geram frustrações, devido à exposição constante de uma idealizada felicidade. Um mundo supostamente perfeito. Com isso, um narcisismo exacerbado predomina. A cobrança para atingir essa igualdade ou seguir uma influência das mídias digitais são altas, gerando uma baixa autoestima naqueles que não alcançam autoestima e segurança em sua alteridade humana.

Fontes:

FREUD, Sigmund. Obras Completas. Edição Standard brasileira. Vol. XIV. Imago Editora, Rio de Janeiro, 1996.

FREUD, Sigmund. (1856-1939) Neurose, psicose, perversão. Tradução Maria Rita Salzano Moraes Belo Horizonte: Autêntica, 2020. (Obras Incompletas de Sigmund Freud; 5)

__________Totem e tabu e outros trabalhos. Vol. XIII. Imago Editora, Rio de janeiro, 1974.

__________Conferências introdutórias à psicanálise. Vol. XIII [1916-1917]. Companhia das Letras, São Paulo, 2014.

A Psicóloga e Neuropsicóloga Marina da Silveira Rodrigues Almeida é especialista em Transtorno do Espectro Autista em homens e mulheres.

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