ALTAS HABILIDADES E SUPERDOTAÇÃO EM PESSOAS AUTISTAS: POTENCIAL BRILHANTE, DESAFIOS REAIS

Na prática clínica com adultos autistas, é comum encontrar indivíduos com talentos excepcionais em áreas como matemática, música, linguagem ou programação. Mas nem sempre esses talentos são reconhecidos como altas habilidades ou superdotação.

Altas habilidades ou superdotação referem-se a indivíduos que demonstram um desempenho significativamente superior em uma ou mais áreas do conhecimento humano, incluindo, mas não se limitando a inteligência geral, habilidades acadêmicas específicas, pensamento criativo, liderança, artes e habilidades psicomotoras.

Estes indivíduos apresentam um potencial elevado que, se bem identificado e desenvolvido, pode resultar em contribuições significativas para a sociedade e para suas vidas pessoais

Em muitos casos, o diagnóstico de autismo obscurece o potencial, ou o brilho das habilidades esconde os desafios do espectro. É aí que entra o conceito de dupla excepcionalidade — quando uma pessoa é autista e também superdotada.

Estatísticas e Realidade Clínica

  • Estima-se que 3,5% a 5% da população mundial tenha superdotação ou altas habilidades.
  • Entre pessoas autistas, a presença de altas habilidades é menos frequente, mas significativa — especialmente em casos de autismo leve.
  • Muitos indivíduos com diagnóstico apenas de superdotação, na verdade, apresentam traços do espectro autista que passam despercebidos.

Diferenças entre Autismo e Superdotação

AspectoAutismo (TEA)Altas Habilidades / Superdotação
OrigemNeurodesenvolvimentoPotencial cognitivo elevado
FocoInteresses restritos e intensosTalento em áreas específicas
ComunicaçãoDificuldades sociais e pragmáticasPode ser verbalmente avançado
AprendizagemEstilo singular, processamento sensorialRápido, criativo, autodidata
EmoçõesDificuldade de regulação emocionalSensibilidade emocional elevada

A dupla excepcionalidade ocorre quando o indivíduo apresenta tanto características do espectro autista quanto habilidades cognitivas acima da média. Isso pode gerar confusão diagnóstica e desafios específicos no manejo clínico e educacional.

Os testes padrão ouro que avaliam altas habilidades e superdotação em crianças, adolescentes e adultos são o WISC e WAIS, mas não existem na modalidade digital, não podem ser realizados online porque exigem a execução do paciente.

Então procure uma clínica psicológica presencial para fazer sua avaliação neuropsicológica.

Não existem versões oficiais do WISC ou WAIS para aplicação digital online que permitam avaliação, com uso restrito a psicólogos. A aplicação destes testes requer um psicólogo qualificado e é feita individualmente, com correção manual e/ou informatizada através de sistemas específicos para uso de profissionais, conforme o registro no Satepsi do Conselho Federal de Psicologia (CFP).

A WAIS (Escala Wechsler Abreviada de Inteligência) também é um instrumento para uso restrito a psicólogos, apesar de sua aplicação ser mais rápida e breve.

A EICAS-AH/SD é a primeira escala brasileira de autorrelato voltada à identificação inicial de características cognitivas e socioemocionais associadas às altas habilidades/superdotação (AH/SD) em crianças e adolescentes a partir de 9 até 12 anos, sendo aplicada presencialmente.

O TIAH/S é uma escala não restrita a psicólogos, desenvolvida para identificar sinais precoces de altas habilidades em crianças e adolescentes a partir de 9 a 15 anos. Pode ser aplicada online ou presencial. Composta por 42 itens, avalia cinco áreas fundamentais: intelecto geral, habilidades acadêmicas, liderança, criatividade e talento artístico.

Comorbidades Comuns

Pessoas autistas ou com altas habilidades podem apresentar:

  • Ansiedade Social ou Generalizada
  • Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC)
  • Déficit de atenção e hiperatividade (TDAH)
  • Depressão
  • Hiperlexia (leitura precoce e intensa, nem sempre associada à compreensão)
  • Dependência em Internet ou jogos online

Essas comorbidades podem mascarar ou intensificar os desafios da dupla excepcionalidade, exigindo uma avaliação cuidadosa e multidisciplinar.

Consequências de Não Procurar Ajuda

  • Subaproveitamento do potencial: talentos não desenvolvidos por falta de estímulo adequado.
  • Sofrimento emocional: sensação de inadequação, isolamento e baixa autoestima.
  • Dificuldades escolares e profissionais: desmotivação, conflitos interpessoais, evasão.
  • Diagnósticos equivocados: confusão entre superdotação, autismo e outros transtornos.
  • Desregulação emocional: crises de ansiedade, meltdowns, retraimento social.

Altas Habilidades/Superdotação (AH/SD): Este conceito, de acordo com autores como Linda Silverman e Françoys Gagné (2019), não se restringe apenas ao quociente de inteligência (QI). Ele é definido pela potencialidade ou desempenho elevado em uma ou mais áreas, como a intelectual, acadêmica, criativa, artística, psicomotora e de liderança. Em adultos, manifesta-se por meio de uma sede por conhecimento, pensamento acelerado, senso de humor diferenciado e, muitas vezes, uma percepção aguda das injustiças sociais.

  • Autismo (nível 1 de suporte): O DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), a principal referência na área, descreve o autismo como um transtorno do neurodesenvolvimento caracterizado por dificuldades na comunicação e interação social, além de padrões de comportamento, interesses ou atividades restritos e repetitivos. Em adultos, isso pode se manifestar como desafios na interpretação de nuances sociais, dificuldades para iniciar ou manter conversas, aderência a rotinas rígidas e interesses muito específicos e intensos.
  • Comorbidades e a “Camuflagem” –É crucial entender que o alto intelecto pode, por vezes, mascarar as características do autismo. Pessoas com AH/SD e autismo podem usar sua inteligência para “camuflar” ou compensar as dificuldades sociais, aprendendo a imitar comportamentos aceitáveis. Isso gera um desgaste emocional significativo e leva ao esgotamento mental.
  • Dependência de Internet e TDAH Combinado – A Dependência de Internet, ou Transtorno do Jogo pela Internet (Internet Gaming Disorder), é uma comorbidade cada vez mais frequente em indivíduos com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).
  • TDAH: Conforme o DSM-5 e autores como Russell Barkley, o TDAH é um transtorno do neurodesenvolvimento com dois polos principais: desatenção (dificuldade de focar, esquecimento) e ou hiperatividade-impulsividade (inquietação, agir sem pensar, necessidade de estímulos, pensamentos acelerados). O tipo combinado manifesta ambos os sintomas. Em adultos, a hiperatividade pode se manifestar como inquietação interna, dificuldades para relaxar, pensamentos acelerados, adicções, impaciência, busca de estímulos constantes, consciência corporal, enquanto a desatenção dificulta a conclusão de tarefas, foco e organização de rotinas cotidianas.
  • Dependência de Internet: A internet oferece gratificação instantânea e uma infinidade de estímulos, o que pode ser um refúgio para pessoas com TDAH que buscam a dopamina (neurotransmissor ligado ao prazer e recompensa) que lhes falta. O uso excessivo se torna um problema quando prejudica as áreas importantes da vida ao longo do tempo, como o trabalho, os relacionamentos, a saúde física e mental. O indivíduo pode perder a noção do tempo, sentir irritabilidade quando não está online (síndrome de abstinência de dopamina), baixa resistência a frustração, empobrecimento das habilidades socioemocionais, e priorizar o mundo virtual em detrimento do real.

Sintomas e Consequências da Falta de Tratamento – A falta de diagnóstico e tratamento para as condições mencionadas pode ter consequências:

  • Altas Habilidades/Autismo-TEA: Sem a compreensão adequada, o indivíduo pode desenvolver ansiedade, depressão e baixa autoestima devido a um sentimento constante de inadequação. A “camuflagem” leva ao burnout, isolamento social e dificuldade em estabelecer relacionamentos significativos e profundos.
  • TDAH/Dependência de Internet: A falta de tratamento pode levar a perda de emprego, problemas financeiros, conflitos familiares e sociais. A dependência de internet agrava a desatenção e o isolamento, gerando um ciclo vicioso que afeta a saúde física e mental.

Tratamento e Abordagem Terapêutica

O tratamento deve ser personalizado, respeitando a singularidade do paciente:

Avaliação:

  • Neuropsicológica: para mapear perfil cognitivo, emocional e comportamental.
  • Psiquiátrica: para investigar comorbidades e considerar medicação, se necessário.
  • Especialista em autismo: para diferenciar traços autistas de superdotação.

Psicoterapia:

  • Psicoterapia com foco em neurodiversidade: TCC – Terapia Cognitiva Comportamental ou Psicanálise Contemporânea, ajuda na regulação emocional, autoestima e habilidades sociais.
  • Apoio à família: orientação sobre manejo, estímulo e acolhimento.
  • Intervenção educacional: adaptação curricular e estratégias de ensino.

A psicóloga Marina Almeida realiza atendimentos presenciais em São Vicente – SP e online para todo o Brasil, com foco em adultos autistas, superdotados e casos de dupla excepcionalidade.

Potencial Que Merece Espaço

Ser autista e superdotado não é uma contradição — é uma complexidade que exige escuta, cuidado e reconhecimento. Quando o talento encontra acolhimento, o sujeito floresce. E quando o sofrimento é compreendido, o caminho se torna mais leve.

Baixar e-book UFSM– Altas Habilidades/Superdotação: abordagens teórico-práticas para o Atendimento Educacional Especializado: https://repositorio.ufsm.br/bitstream/handle/1/27623/Livro%20Altas%20Habilidades%20Superdota%C3%A7%C3%A3o.pdf

Se você ou alguém próximo apresenta sinais de altas habilidades e traços do espectro autista, não hesite em buscar apoio especializado. O cuidado certo pode transformar o potencial em potência.

Entre em contato comigo por mensagem no WhatsApp (55) 13 991773793 e agende uma consulta online.

Fontes:

BRASIL. Decreto nº 10.502/2020. Institui a Política Nacional de Educação Especial: Equitativa, Inclusiva e com Aprendizado ao Longo da Vida. Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/decreto-n-10.502-de30-de-setembro-de- 2020-280529948. Acesso em 30 ago. 2025.

BRASIL. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília: MEC/SEESP, 2008. Disponível em: http://portal. mec.gov.br/arquivos/pdf/politicaeducespecial.pdf. Acesso em 30 ago. 2025.

CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE DOENÇAS (CID-11), 11ª revisão da Organização Mundial da Saúde (OMS), 2022.

FIRST, MICHAEL B. Manual de diagnóstico diferencial do DSM-5. Porto Alegre, Artmed, 2015.

LEONARD R. DEROGATS, PhD. Inventário Breve de Sintomas (BSI), Ed. Persons, 2018.

NAKANO, T. de C. Altas Habilidades/Superdotação e a dupla excepcionalidade. In: RONDINI, C. A.; REIS, V. L. dos. (Org.) Altas Habilidades Superdotação: Instrumentais para identificação e atendimento do estudante dentro e fora da sala de aula comum. Curitiba: CRV, 2021.

NAKANO, T. de C. Dupla excepcionalidade: compreensões iniciais sobre o conceito. In: ROA A-ALVES, R.J.; NAKANO, T. de C. Dupla excepcionalidade: Altas Habilidades/Superdotação nos transtornos neuropsiquiátricos e deficiências. 1.ed. São Paulo: Vetor Editora, 2021.

OGEDA, C. M. M. Superdotação e Transtorno de Déficit de Atenção/ Hiperatividade: um estudo de indicadores e habilidades sociais. Dissertação (Mestrado em Educação). Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, 2020. Disponível em: http://hdl.handle.net/11449/191638. Acesso em 30 ago. 2025.

OUROFINO, V. T. A. T. Características cognitivas e afetivas entre alunos superdotados, hiperativos e superdotados/ hiperativos: um estudo comparativo. Dissertação (Mestrado em Psicologia) – Universidade de Brasília, Brasília, 2005. Acesso em 30 ago. 2025.

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Marina da Silveira Rodrigues Almeida – CRP 06/41029

Psicóloga Clínica, Escolar e Neuropsicóloga, Especialista em pessoas adultas Autistas (TEA), TDAH, Neurotípicos e Neurodiversos.

Psicanalista Psicodinâmica e Terapeuta Cognitiva Comportamental

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