A CLÍNICA PSICANALÍTICA EM TEMPOS DIGITAIS: ENTRE DESAFIOS VIRTUAIS E HORIZONTES INTERDISCIPLINARES

Na travessia que a psicanálise realiza do setting tradicional ao ambiente virtual, somos convocados a repensar suas premissas fundantes.

A prática clínica online não constitui apenas uma transposição técnica — ela demanda uma reelaboração da presença, da escuta e da transferência à luz das novas formas de subjetivação. Ao mesmo tempo, impõe-se o imperativo ético e teórico de uma formação analítica pluralista, atravessada por múltiplos saberes, sensível à complexidade da vida psíquica contemporânea.

O Setting Virtual e a Presença na Ausência

A clínica online provoca deslocamentos que vão além do espaço físico. O corpo do analista, outrora figura silenciosa e presente no divã, agora comparece mediatizado por telas, câmeras e conexões. O dispositivo digital parece diluir fronteiras entre o público e o íntimo, entre o setting e a vida cotidiana.

Porém, como aponta a psicanálise, a presença não é puramente corporal — é uma função simbólica. A “presença virtual” pode operar como lugar de escuta, de alteridade e de inscrição do desejo, desde que o enquadre ético e transferencial seja cuidadosamente preservado. O silêncio, o tempo da fala, os lapsos e os equívocos continuam a ser matéria do trabalho psíquico, mesmo quando mediados por pixels e protocolos.

Transferência em Tempos Conectados

A transferência, enquanto fenômeno estrutural da clínica psicanalítica, não desaparece em ambientes digitais. Ela se atualiza. A tela torna-se suporte para projeções, idealizações, resistências — tal como o consultório físico. Contudo, surgem novos desafios: como lidar com os atravessamentos tecnológicos (interrupções, notificações, hiperconexão)? Como sustentar a escuta flutuante frente à multiplicidade de distrações?

É necessário cultivar uma escuta que vá além do literal. O inconsciente não se cala por estar online. Ele se expressa nos gestos, nos tempos de resposta, nas quebras do discurso. O analista, enquanto função e não figura idealizada, deve se reposicionar: menos guardião do divã, mais intérprete de sinais que escapam pelas frestas da mediação virtual.

Formação Analítica: Um Chamado à Interdisciplinaridade

A complexidade da clínica contemporânea exige que a formação do analista transcenda os cânones exclusivos da teoria psicanalítica. As articulações com a filosofia, a sociologia, a neurociência e a arte oferecem caminhos fecundos para compreender os sofrimentos atuais — que já não se acomodam em estruturas fixas ou diagnósticos fechados.

Dialogar com esses campos não significa abandonar a especificidade da escuta psicanalítica, mas sim enriquecer sua potência clínica e epistemológica. Um analista bem formado hoje é aquele que se permite atravessar por múltiplas leituras do humano, sem perder o eixo simbólico que sustenta sua prática.

Reinvenção, Não Ruptura

A psicanálise online não representa a ruína da escuta, mas sua reinvenção. A formação interdisciplinar não dilui a psicanálise, mas a expande. Estamos diante de uma clínica que exige plasticidade, ética e sensibilidade.

O setting digital, como qualquer espaço analítico, só se realiza na medida em que preserva a função de escuta e de elaboração simbólica do sofrimento. Cabe a nós, analistas, sustentar essa travessia com rigor, coragem e abertura para o novo.

Pontos Positivos da Terapia com IA

  • Acessibilidade 24/7: Chatbots e assistentes terapêuticos estão disponíveis a qualquer hora, o que pode ser útil em momentos de crise ou para quem vive em locais com poucos profissionais.
  • Baixo custo ou gratuito: Ideal para quem não pode pagar por sessões regulares com um terapeuta humano.
  • Privacidade e anonimato: Algumas pessoas se sentem mais confortáveis falando com uma IA, sem medo de julgamento ou exposição.
  • Estímulo à busca por ajuda: Pode ser uma porta de entrada para quem tem resistência à terapia tradicional.

Desafios e Limitações da Terapia com IA

  • Falta de empatia genuína: A IA pode simular escuta, mas não sente. Isso limita a profundidade do vínculo terapêutico.
  • Ausência de julgamento clínico: A IA não pode diagnosticar, avaliar risco de suicídio ou adaptar intervenções com base em nuances emocionais.
  • Limitação na escuta simbólica: A IA não interpreta silêncios, linguagem corporal ou lapsos de fala — elementos centrais na psicanálise.
  • Dependência emocional da IA: Algumas pessoas podem desenvolver vínculos ilusórios com a máquina, o que pode gerar isolamento ou frustração.

Riscos Potenciais

RiscoDescrição
DesinformaçãoIA pode oferecer conselhos genéricos ou inadequados sem considerar o contexto clínico.
Falsa sensação de cuidadoO usuário pode acreditar que está em terapia, quando na verdade está apenas interagindo com um algoritmo.
Privacidade e segurança de dadosConversas com IA podem ser armazenadas ou utilizadas por terceiros, dependendo da plataforma.
Evitação da ajuda profissionalA facilidade da IA pode levar à procrastinação em buscar apoio humano qualificado.

Mitigação de Riscos

  • Uso complementar: IA pode ser usada como suporte entre sessões com um terapeuta humano, não como substituto.
  • Transparência da tecnologia: Plataformas devem deixar claro que não oferecem psicoterapia, mas sim apoio emocional automatizado.
  • Educação sobre saúde mental: Informar o público sobre os limites da IA e a importância da escuta humana qualificada.
  • Regulação ética: Desenvolver normas para o uso terapêutico da IA, com supervisão de profissionais da saúde mental.

Diferenças Fundamentais com o Psicanalista Humano

AspectoPsicanalista HumanoInteligência Artificial
EmpatiaGenuína, afetiva e responsivaSimulada, sem vivência emocional
TransferênciaFenômeno clínico interpretado e trabalhadoPode ocorrer, mas não é elaborado
EscutaFlutuante, simbólica, sensível ao inconscienteLiteral, baseada em padrões de linguagem
Responsabilidade éticaRegida por códigos profissionaisVariável conforme a plataforma
Capacidade de intervençãoPode agir em situações de riscoLimitada ou inexistente

A IA pode ser uma ferramenta útil, mas não substitui a profundidade, a ética e a complexidade da escuta psicanalítica. Ela pode ser um ponto de apoio, mas o processo de elaboração simbólica do sofrimento humano ainda exige a presença — mesmo que virtual — de um outro humano.

O psicanalista Fábio Belo, professor da UFMG, cuja abordagem une psicanálise, literatura e crítica cultural, tem se dedicado a pensar a subjetividade contemporânea a partir da psicanálise, com especial atenção aos efeitos da tecnocultura sobre o narcisismo e a constituição do eu.

Em seus seminários e publicações, ele destaca que a inteligência artificial, ao ocupar espaços simbólicos antes reservados à alteridade humana, promove uma espécie de “colonização do imaginário” — termo que ele utiliza para descrever o modo como os algoritmos passam a mediar nossas experiências afetivas, cognitivas e relacionais.

Para Belo, essa mediação não é neutra: ela reforça ideais de perfeição, desempenho e controle, intensificando o narcisismo defensivo e dificultando o acesso à alteridade e à frustração, elementos fundamentais para o amadurecimento psíquico.

Ele também aponta que a ausência de regulamentação sobre o uso da IA favorece a exploração de vulnerabilidades emocionais, especialmente em contextos de consumo e redes sociais.

A lógica algorítmica, segundo Belo, tende a reforçar padrões de repetição e identificação narcísica, em detrimento da elaboração simbólica e do encontro com o outro.

Essa crítica se alinha à tradição freudiana, mas dialoga com autores contemporâneos como Christopher Bollas e Jean Laplanche, que pensam o inconsciente como campo de abertura e não de fechamento.

Fontes:

Belo, F. R. R. (2023). Sobre o amor e outros ensaios de psicanálise e pragmatismo. Artigos e publicações disponíveis no site oficial

Conde, E. F. Q., Souza, F. L. L., & Porto, T. R. (2020). Inteligência Artificial e processamento emocional: uma revisão de literatura. Portal eduCAPES. Acesse o estudo completo

Lippi, F. L., Abilio, C. C. C., Lippi, J. R. S., Gatti, D. C., & Graglia, M. A. V. (2025). Impactos emocionais e afetivos do uso da inteligência artificial. Lumen et Virtus, v.16, n.44, p. 341–355. DOI: 10.56238/levv16n44-026

Santaella, L., & Kaufman, D. (2024). A inteligência artificial generativa como quarta ferida narcísica do humano. Revista Matrizes, v.18, n.1, p. 37–53. DOI: 10.11606/issn.1982-8160.v18i1p37-53

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Marina da Silveira Rodrigues Almeida – CRP 06/41029

Psicóloga Clínica, Escolar e Neuropsicóloga, Especialista em pessoas adultas Autistas (TEA), TDAH, Neurotípicos e Neurodiversos.

Psicanalista Psicodinâmica e Terapeuta Cognitiva Comportamental

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