Sándor Ferenczi, nascido em 1873, Miskolc, Hungria, Áustria-Hungria – falecido em 1933, Budapeste, foi um psicanalista húngaro conhecido por suas contribuições à teoria psicanalítica e por sua experimentação com técnicas de terapia.
Depois de receber seu doutorado na Universidade de Viena (1894), Ferenczi serviu como médico do exército, especializando-se em neurologia e neuropatologia e adquirindo habilidades em hipnose. Ele conheceu Sigmund Freud em 1908 e tornou-se membro do “círculo íntimo” de Freud, a Sociedade Psicanalítica de Viena. Assim começou sua longa e estreita amizade e colaboração com Freud, a quem acompanhou em muitas viagens, incluindo uma viagem à Clark University Worcester, Massachusetts (1909). Fundou a Sociedade Psicanalítica Húngara em 1913 e tornou-se professor de psicanálise na Universidade de Budapeste em 1919.
Ferenczi começou a divergir da prática psicanalítica clássica ao explorar novas possibilidades de aprimoramento da técnica terapêutica. Ele acreditava que o uso da associação livre como meio de alcançar a lembrança de experiências emocionais dolorosas precoces poderia ser complementado por métodos mais ativos quando fossem encontrados obstáculos à associação livre na terapia. Ele defendia a abstenção de sexo e de outros atos biológicos prazerosos como meio de armazenar libido (energia emocional) que poderia então ser usada para acelerar o processo terapêutico. Contudo, esse método mostrou-se impraticável e até contraproducente devido à intensa hostilidade que despertava em pacientes insatisfeitos.
Ferenczi avançou muitas de suas ideias sobre psicoterapia em O Desenvolvimento da Psicanálise (1924), escrito em colaboração com Otto Rank. Nesse trabalho, que se tornou centro de polêmica entre os psicanalistas, ele também sugeriu que a lembrança de certas memórias traumáticas não é essencial para a modificação de padrões neuróticos. Em Thalassa: Uma Teoria da Genitalidade (1924), ele sugeriu que o desejo de retornar ao útero e ao conforto de seus fluidos amnióticos simboliza um desejo de retornar à origem da vida, o mar.
Por volta de 1929, Ferenczi chegou a uma visão da terapia que era inversa à sua abordagem anterior. Sua técnica final favoreceu a criação de uma atmosfera amorosa e permissiva por parte do terapeuta para contrabalançar a rejeição e a privação emocional que o paciente havia vivenciado com seus pais.
A afirmação de Ferenczi de que o terapeuta poderia expressar abertamente seu afeto pelo paciente e até encorajá-lo a representar experiências infantis foi criticada por outros psicanalistas. Embora Ferenczi nunca tenha rompido abertamente com Freud, houve uma distância cada vez maior entre eles durante seus últimos anos.
Aos 17 anos, foi estudar medicina em Viena, formando-se em clínica geral e neuropsiquiatria. O enfant terrible da psicanálise já era um enfant terrible da medicina: posicionava-se contra a falta de ética e a hipocrisia presente nas instituições médicas. Atendeu prostitutas, a população carente em geral, e engajou-se na luta contra a perseguição social e política aos homossexuais.
Em 1906, assumiu publicamente o apoio aos homossexuais num artigo apresentado à Associação Médica de Budapeste e se tornou representante do Comitê Humanitário Internacional para a Defesa dos Homossexuais. Além da forte veia política, era um escritor muito produtivo: entre 1897 e 1908, antes de conhecer Freud e se interessar pela psicanálise, já havia publicado 104 artigos, estudos de casos, ensaios e resenhas. Esses trabalhos, Os escritos de Budapeste, são considerados seus estudos pré-psicanalíticos. Como psicanalista, Ferenczi publicou mais de 144 artigos.
Ainda jovem, leu A Interpretação dos Sonhos sem muito interesse. Mas ao reler o livro, em 1908, fica encantado. Passa a ler todas as publicações sobre psicanálise e marca um encontro com Freud. Balint escreve que Freud “ficou tão impressionado com Ferenczi que o convidou para fazer uma comunicação no primeiro Congresso de Psicanálise em Salzburg, em abril de 1908, e a encontrá-lo em Berchtesgaden, onde a família passaria o verão”. No ano seguinte, acompanhou Freud aos Estados Unidos, para as Cinco Lições de Psicanálise na Clark University, juntamente com Jung, e discutiu cada uma das cinco conferências nos passeios que faziam pela manhã.
Em 1910, instigado por Freud, propôs a criação da IPA. Em 1913, criou a Sociedade Psicanalítica Húngara, que presidiu até sua morte, em 1933. Em 1918, no Congresso de Budapeste, foi eleito presidente da IPA. Em 1919, foi o responsável pela primeira entrada da psicanálise numa universidade: criou, em Budapeste, o Departamento de Psicanálise e foi nomeado para a cátedra.
Foi analisando de Freud entre 1914 e 1915, e analista de Melanie Klein, Ernest Jones, Michael Balint e Clara Thompson, entre muitos outros. Foi através de Balint que as ideias de Ferenczi puderam ser transmitidas a Winnicott.
Em seus últimos anos, o interesse de Ferenczi se dirigiu para a criação de estratégias clínicas que pudessem se adaptar aos pacientes que atendia. A ele eram encaminhados os casos que outros analistas consideravam difíceis ou até “inanalisáveis”. Para ele, porém, não existiam casos inanalisáveis; o que existia eram analistas que não tinham se analisado suficientemente. A partir dessa clínica, Ferenczi elaborou sua teoria do trauma e forjou novas estratégias para tratá-lo, o que provocou, nos anos 30, sua ruptura com Freud. De forma irônica, é justamente sua clínica do trauma que o torna, nas palavras de André Green, “o pai da psicanálise contemporânea”.
Ferenczi morreu em 22 de maio de 1933, de anemia perniciosa. Freud escreveu, em seu necrológio: “Ele soube fazer de todos nós seus alunos (…) É impossível que a história de nossa ciência algum dia venha a esquecê-lo”.
Ferenczi foi esquecido por mais de 50 anos. São os impasses da clínica contemporânea que levam os psicanalistas a se tornarem, novamente, seus alunos, revisitando suas teorias e ensinamentos da prática clínica.
Fontes:
SZECSÖDY, I. (2007). Sándor Ferenczi—the first intersubjectivist. The Scandinavian Psychoanalytic Review Vol. 30, Iss. 1.
BALINT, M. Prefácio in Sándor Ferenczi. Psicanálise I. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
BALINT, M. Prefácio in Sándor Ferenczi. Psicanálise II. São Paulo: Martins Fontes, 1992.
DUPONT, J. (1985). Prefácio in Journal Clinique. Payot: Paris.
FREUD, S. (1933). Sándor Ferenczi. Edição Standard Brasileira. Rio de Janeiro: Imago, 1976, vol. 22, p. 227.
SABOURIN, P. (1985). Ferenczi, paladino et grand vizir secret. Bégédis: Éditions Universitaires.
SZECSÖDY, I. (2007). Sándor Ferenczi – the first intersubjectivist. The Scandinavian Psychoanalytic Review, vol. 30, 1.
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